Pular para o conteúdo principal

Entrevista do Ano: Pamela Rutledge

BBC Brasil - Estamos mostrando o nosso 'lado negativo' nas redes sociais?

Pamela Rutledge -
As pessoas são as mesmas, online ou offline. Mas a internet tem a ver com respostas rápidas. As pessoas falam sem pensar. É diferente da experiência social offline, em que você se policia por conta da proximidade física do interlocutor. Nós já estamos acostumados com a ideia de que nosso comportamento obedece a regras sociais, mas ainda não percebemos que o mesmo vale na internet.

BBC Brasil - No Brasil, a polarização política tem levado pessoas com visões distintas a se ofenderem e ameaçarem, tanto em comentários em sites de notícias quanto nas redes sociais. A internet estimularia o radicalismo?

Rutledge -
As redes sociais encorajam pessoas com posições extremas a se sentirem mais confiantes para expressá-las. Pessoas que se sentem impotentes ou frustradas se comportam desta maneira para se apresentarem como se tivessem mais poder. E as pessoas costumam se sentir mais poderosas tentando diminuir ou ofender alguém.

BBC Brasil - Os comentários na internet são um índice confiável do que as pessoas realmente acreditam?
Rutledge - Depende do tópico. Mas as pessoas que tendem a responder de maneira agressiva não representam o sentimento geral.

BBC Brasil - As pessoas com opiniões menos radicais têm menos disposição para comentar do que as demais?

Rutledge -
Sim. Porque os comentários agressivos têm mais a ver com a raiva das pessoas do que com uma argumentação para mudar a mente das outras. Quem parte para a agressividade, não está dando informações para trazer alguém para seu lado, estas pessoas querem apenas agredir.

BBC Brasil - A "trollagem", gíria de internet para piadas ou comentários maldosos sobre anônimos e famosos, muitas vezes feitos repetidamente, é vista por muita gente como diversão. Há perigos por trás das piadas?

Rutledge -
No caso das celebridades que são alvo da ''trollagem'', os fãs vêm defendê-las, então, elas não costumam precisar tomar qualquer iniciativa. No caso dos anônimos, a recomendação é usar ferramentas para solução de conflitos, como encorajar seus amigos e conhecidos a não serem espectadores, mas a tomarem atitudes em defesa do ofendido. Isso não significa discutir com os autores das ofensas, porque isso alimenta os ''trolls'' e é isso que eles querem.


BBC Brasil - Os procedimentos de segurança do Facebook e do Twitter são suficientes para proteger os alvos de bullying?

Rutledge -
Seria ingênuo esperar que qualquer companhia, mesmo do tamanho do Facebook e do Twitter, seja capaz de monitorar e ajudar neste tipo de situação. E não dá para deixar só para as empresas aquilo que devemos ser responsáveis, nós mesmos. É importante que as pessoas entendam como funcionam as ferramentas e seus mecanismos para privacidade. Se a conclusão for que o Facebook não oferece o suficiente, que as pessoas se posicionem e reclamem: ''Não é suficiente''.

BBC Brasil - Que tipo de doenças são ligadas ao uso da internet ou das redes sociais?

Rutledge -
A resposta simples é não, não há doenças causadas pela internet. Há preocupações recorrentes com o vício em internet ou em redes socais. Mas vícios são doenças bastante sérias e a internet não cria personalidades com vícios. As pessoas usam as redes da mesma forma que usam álcool, jogos, chocolate, ou qualquer outra coisa que mascare problemas maiores.

BBC Brasil - Problemas como...?

Rutledge -
Falta de autoestima, depressão. É importante chegar à real causa do vício, apenas cortar a internet não muda nada.

BBC Brasil - Temas como diversidade sexual, racismo e machismo, vistos como tabus até recentemente, são hoje bastante populares online. Como vê estes tópicos ganhando atenção?

Rutledge
- É sempre positivo que as pessoas debatam e desenvolvam seu conhecimento sobre temas. Mesmo que a conversa termine de forma negativa, isso ainda vale para que se perceba o que está acontecendo a seu redor. Afinal, tudo isso já acontecia, mas não tínhamos conhecimento - e isso significa que estamos nos aproximando da possibilidade de transformá-las.

BBC Brasil - Quais são os conselhos para os pais ajudarem seus filhos a não embarcarem nas ondas de ódio das redes sociais?

Rutledge -
A primeira coisa é conversar com as crianças desde muito cedo sobre tecnologia. Muitos evitam porque não entendem bem a tecnologia. Mas a tecnologia é apenas o "lugar" onde as coisas estão acontecendo; o principal ainda são os valores. Então, se algo está acontecendo em qualquer plataforma que os pais não conheçam bem, a sugestão é que chamem as crianças e peçam que elas deem seu ponto de vista. Aí sim eles poderão entender como as crianças estão lidando com a questão e, a partir daí, decidir quais devem ser as preocupações. A responsabilidade pode ser compartilhada. É importante ensinar os filhos a pensarem criticamente.


BBC Brasil - Muitos acham que ler históricos de conversas dos filhos ou usar apps para controlá-los é a melhor forma de ajudar as crianças. O controle é uma boa saída?

Rutledge -
Os pais precisam entender que devem escutar seus filhos. Claro que cada situação tem suas características, mas geralmente controlar significa que você não conversou com eles e não lhes deu oportunidades para tomar decisões.

O problema é que, em algum momento, eles vão precisar tomar decisões por si mesmos e você não vai estar ali, nem o seu "app de controle". Então, é muito melhor dialogar, e isso costuma ser muito difícil para os pais, que tendem dizer o que os filhos devem fazer, sem conversa.

Comentários

Postagens Mais Lidas

literatura Canadense

Em seus primórdios, a literatura canadense, em inglês e em francês, buscou narrar a luta dos colonizadores em uma região inóspita. Ao longo do século XX, a industrialização do país e a evolução da sociedade canadense levaram ao aparecimento de uma literatura mais ligada às grandes correntes internacionais. Literatura em língua inglesa. As primeiras obras literárias produzidas no Canadá foram os relatos de exploradores, viajantes e oficiais britânicos, que registravam em cartas, diários e documentos suas impressões sobre as terras da região da Nova Escócia. Frances Brooke, esposa de um capelão, escreveu o primeiro romance em inglês cuja ação transcorre no Canadá, History of Emily Montague (1769). As difíceis condições de vida e a decepção dos colonizadores com um ambiente inóspito, frio e selvagem foram descritas por Susanna Strickland Moodie em Roughing It in the Bush (1852; Dura vida no mato). John Richardson combinou história e romance de aventura em Wacousta (1832), inspirada na re

Papel de Parede 4K

Chave de Ativação do Nero 8

1K22-0867-0795-66M4-5754-6929-64KM 4C01-K0A2-98M1-25M9-KC67-E276-63K5 EC06-206A-99K5-2527-940M-3227-K7XK 9C00-E0A2-98K1-294K-06XC-MX2C-X988 4C04-5032-9953-2A16-09E3-KC8M-5C80 EC05-E087-9964-2703-05E2-88XA-51EE Elas devem ser inseridas da seguinte maneira: 1 Abra o control center (Inicial/Programas/Nero 8/Nero Toolkit/Nero controlcenter) nunca deixe ele atualizar nada!  2 Clic em: Licença  3 Clica na licença que já esta lá dentro e em remover  4 Clica em adcionar  5 Copie e cole a primeira licença que postei acima e repita com as outras 5

Como funciona o pensamento conceitual

O pensamento conceitual ou lógico opera de maneira diferente e mesmo oposta à do pensamento mítico. A primeira e fundamental diferença está no fato de que enquanto o pensamento mítico opera por bricolage (associação dos fragmentos heterogêneos), o pensamento conceitual opera por método (procedimento lógico para a articulação racional entre elementos homogêneos). Dessa diferença resultam outras: • um conceito ou uma idéia não é uma imagem nem um símbolo, mas uma descrição e uma explicação da essência ou natureza própria de um ser, referindo-se a esse ser e somente a ele; • um conceito ou uma idéia não são substitutos para as coisas, mas a compreensão intelectual delas; • um conceito ou uma idéia não são formas de participação ou de relação de nosso espírito em outra realidade, mas são resultado de uma análise ou de uma síntese dos dados da realidade ou do próprio pensamento; • um juízo e um raciocínio não permanecem no nível da experiência, nem organizam a experiência nela mesma, mas, p

Wallpaper 4K (3000x2000)

Inteligência & Linguagem

Não somos dotados apenas de inteligência prática ou instrumental, mas também de inteligência teórica e abstrata. Pensamos. O exercício da inteligência como pensamento é inseparável da linguagem, como já vimos, pois a linguagem é o que nos permite estabelecer relações, concebê-las e compreendê-las. Graças às significações escada e rede, a criança pode pensar nesses objetos e fabricá-los. A linguagem articula percepções e memórias, percepções e imaginações, oferecendo ao pensamento um fluxo temporal que conserva e interliga as idéias. O psicólogo Piaget, estudando a gênese da inteligência nas crianças, mostrou como a aquisição da linguagem e a do pensamento caminham juntas. Assim, por exemplo, uma criança de quatro anos ainda não é capaz de pensar relações reversíveis ou recíprocas porque não domina a linguagem desse tipo de relações. Se se perguntar a ela: "Você tem um irmão?", ela responderá: "Sim". Se continuarmos a perguntar: "Quem é o seu irmão?", ela r