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Bem (filosofia)



Noção ética essencial e normativa, que serve para designar o que possui um valor moral.
George Edward Moore pensa ser impossível definir o bem. Trata-se, efetivamente, de um termo genérico para uma pluralidade de conteúdos: a noção de bem é variável conforme as pessoas e as sociedades, sendo evolutiva ao longo do tempo.

O bem, valor moral (ou melhor, conjunto de valores morais), resulta de uma apreciação da atividade humana (ou, antes, das representações internas que o homem faz a esse respeito). Ele é relativo ao que é próprio para favorecer, gratificar ou nos ser útil na vida. A idéia de bem está ligada à da satisfação proporcionada por uma ação, pensamento ou objeto. O bem será, portanto, procurado por ele mesmo ou por outros bens, podendo mostrar-se a nós como motor e fim de nossas ações (causa final). Segundo Sidgwick, ele é “o objeto do desejo racional informado”, o que pressupõe que é oriundo de raciocínios, não é inato, podendo ser adquirido e ensinado.

O bem parece ser aquilo para o qual tendem todas as ações. Essa formulação desperta suspeitas, pois muitos são capazes de reconhecer que inúmeras ações humanas tendem, aparentemente, mais para o mal. Convém, então, constatar que o que pode ser um bem para nós não o é obrigatoriamente para uma outra pessoa. Da mesma maneira, um bem pode, com o tempo, revelar-se um mal e vice-versa. As conseqüências de uma ação aparentemente boa podem, muitas vezes, ser desastrosas para a própria pessoa ou para o outro. Tudo depende do ponto de vista que se adota para emitir o julgamento do bem quanto às suas próprias ações ou às dos outros. Nosso julgamento deve levar em conta algumas escalas, a partir das quais efetuamos nossas observações (escala de população, espaço físico ou determinado período de tempo, ou ainda, o nível lógico no qual situamos nosso raciocínio).

O bem aparece como um conceito eminentemente relativo, o qual só pode ser fixado, em um sentido determinado, pela vontade (escorada por um forte desejo ou uma necessidade oportuna) ou pela obrigação social. Como conjunto de valores, os bens podem ser classificados segundo uma hierarquia própria ao indivíduo: pode-se, assim, considerar um bem maior, ou o “soberano bem”, do qual poderemos fazer a finalidade de nossa existência (o fim).

Concebe-se também que sendo o bem um valor, a idéia que o indivíduo faz a esse respeito contrapõe-se a dos outros: por viver em sociedade, o homem é forçado a levar em consideração o bem comum. Este pode ser definido como um conjunto de valores necessariamente repartidos entre os indivíduos de uma comunidade, a fim de que ela subsista e possa proporcionar a todos vantagens das quais o homem não se beneficiaria se estivesse isolado. Esses bens comunitários convencionais são normativos para a expressão do bem e a ação da pessoa no seio da sociedade.

Em vez de contrapor o bem ao mal, os quais, como vimos, podem muitas vezes ser induzidos, alguns filósofos procuraram fazer com que eles coincidissem, fossem igualados ou se unissem, como todos os contrários, sob um mesmo padrão lógico, proposto sob diferentes denominações (o vazio, a igualdade, Deus, o único, o nada…). Esses pensadores pertenciam, geralmente, a uma corrente mística: sufismo islâmico, elevados ensinamentos do budismo Mahayana etc.

A teologia mística cristã originada do Pseudo-Denys, que retoma o neoplatonismo “unitarista” de Proclo, segue no mesmo sentido. Na concepção de Proclo, o mal não existe: é uma forma degradada do bem, um bem carente de “tônus”, uma fraqueza do bem. Isso é justificado por Pseudo-Denys pelo fato de “Deus-o Único”, o “Incognoscível”, o bem absoluto, não poder ter criado o mal: ele pôde criar somente o bem. Há, pois, uma única escala de valor possível: o mal sendo um valor baixo ou extremamente baixo do bem.
Um outro ponto de vista sobre o bem e o mal pode ser encontrado na continuidade do pensamento de Aristóteles: na reciclagem dinâmica da vida, a geração e a subsistência só existem da corrupção e da degradação daquilo que nasce e subsiste temporariamente. A infelicidade de uns pode fazer a felicidade de outros; e tanto o bem como o mal aparecem uma vez mais como conceitos relativos, quando não relativistas e fugidios.

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