Por exemplo, a frase "o pão é a base da vida", que exige que entendamos as maneiras segundo as quais "pão" e "base" são ao mesmo tempo assemelhadas e diferentes, pode ser compreendida por meio da nossa comparação cruzada de contrastes entre comestível e incomestível, animado e inanimado, apoio e não apoio. Os termos com os quais Pinker articula a sua teoria fazem lembrar a arquitetura de computadores, uma impressão que é reforçada pela sua tendência a referir-se a "arquivamento" quando descreve o desenvolvimento das habilidades lingüísticas em crianças.
A parte mais interessante do livro envolve o uso da metáfora política, embora os argumentos fiquem meios obscurecidos pela tendência de Pinker de esnobar o seu antigo rival na lingüística, George Lakoff, que defende a idéia de que as metáforas dominantes são compostas por aqueles que estão no poder para atenderem aos seus interesses.
Foi Lakoff que sugeriu que "impostos" deveriam receber a nova denominação "taxas de associação", como se não soubesse que George Orwell havia ironicamente sugerido o termo "aumento de receita" como eufemismo para "elevação de impostos". Além do mais, há capítulos fascinantes sobre obscenidade e xingamentos, e algumas citações divertidas de eufemismos metafóricos no âmbito da sexualidade: "Você gostaria de subir para um café?".
No entanto, o ponto em que o livro não consegue satisfazer é precisamente aquele no qual a metáfora alcança o seu mais profundo e rico potencial. Ao ler Pinker, um indivíduo acharia que nem um só poeta, crítico ou filósofo já teve algum dia um pensamento decente a respeito da metáfora na arte e na poesia. Será que Pinker não liga para o trabalho crítico dos seus predecessores nesses campos relacionados? Ou será que as teorias literárias desconstrucionistas, que chegaram aos Estados Unidos na década de 1970, criaram um ponto cego na leitura de Pinker que exclui todo o pensamento crítico ou imaginação cujos exemplos vão da "Biografia Literária" de Coleridge ao "Imagens Românticas" de Frank Kermode?
No livro de Pinker só são citados uns poucos poetas, sendo que o lugar de destaque é reservado a Philip Larkin e a sua menção à "palavra que começa com 'f'".
Shakespeare é mencionado uma vez: não com respeito à metáfora shakespeariana, mas em relação à polêmica secundária sobre a verdadeira identidade do bardo. A palavra "imaginação" não aparece no índice remissivo: em vez disso, o leitor encontra o termo "imagens mentais", o que conduz a esta estranha proposição: "A imaginação humana é uma inventora fantástica. Somos capazes de visualizar unicórnios e centauros, pessoas que são mais rápidas do que uma bala e uma irmandade de seres humanos compartilhando o mundo inteiro". Inventora? Novamente, uma menção à Coleridge seria apta neste ponto. Foi ele que desafiou, na década de 1790, uma tentativa anterior de criação de uma teoria mecânica da relação mente-cérebro: "Observações Sobre o Homem", de David Hartley, o médico e filósofo do século 18.
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