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Como os grandes sábios podem nos ajudar a viver melhor - Final

Marco Aurélio é útil para uma infinidade de situações cotidianas. Somos extraordinariamente suscetíveis à idéia da glória, e é um convite ao bom senso ouvir, a esse respeito, quem foi o dono do mundo. A arrogância, mostra ele, sustenta-se apenas na ignorância e na ilusão. "Cada um vive apenas o momento presente, breve. O mais da vida, ou já se viveu ou está na incerteza. Exíguo, pois, é o que cada um vive. Exíguo, o cantinho da terra onde vive. Exígua, até a mais longa memória na posteridade, essa mesma transmitida por uma sucessão de homúnculos morrediços, que nem a si próprio conhecem, quanto menos a alguém falecido há muito." Marco Aurélio legou à posteridade exemplos memoráveis. Descoberta uma conspiração e executado sem seu conhecimento o traidor, ele lamentou a perda da chance de perdoá-lo. Entregaram-lhe a correspondência do conspirador. Ele queimou-a sem lê-la. Sua atitude diante da discórdia é inspiradora. Estamos a toda hora brigando com alguém e sendo tomados por sentimentos de rancor e aversão. Em suas anotações, Marco Aurélio disse com majestosa sabedoria: "Sempre que você se desentender com alguém, lembre que em pouco tempo você e o outro estarão desaparecidos". Evite brigar. Evite confrontos. Não alimente rancores. Tudo isso é pregado pelos filósofos. "O homem sábio nunca tem maldade e sempre esquece as injustiças de que é vítima", escreveu Aristóteles. Você é teimoso numa discussão? Gosta de comprar briga? Pense na seguinte frase de Montaigne: "Teimar e contestar obstinadamente são defeitos peculiares às almas vulgares. Ao passo que voltar atrás, corrigir-se, abandonar uma opinião errada no ardor da discussão são qualidades raras das almas fortes e dos espíritos filosóficos".

Tão forte como o medo da morte, para a humanidade, é o pesadelo do envelhecimento. Há uma luta inútil e muitas vezes patética pela juventude eterna. Muitos filósofos se detiveram sobre o tema e se esforçaram por nos ajudar a lidar melhor com a passagem do tempo. Um deles foi Cícero (106 a.C.-43 a.C.). Cícero enumera as vantagens desprezadas da velhice. Na dedicatória, ele diz: "Senti tal prazer em escrever que esqueci os inconvenientes dessa idade; mais ainda, a velhice me pareceu repentinamente doce e harmoniosa". Cícero começa por um fato incontestável: "Todos os homens desejam alcançar a velhice, mas ao ficarem velhos se lamentam. Eis aí a conseqüência da estupidez". Depois ele toca num ponto crucial: uma vez que a sorte instável ora nos ergue e ora nos derruba, o que muda mesmo é a maneira com que cada um de nós lida com sua cota de infortúnios. Afirma Cícero: "Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a idade, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade".

Cícero é mordaz e divertido. Quando toca na questão da alardeada perda de memória dos anciões, ele contrapõe: "A memória declina se não a cultivamos ou se carecemos de vivacidade de espírito. Os velhos sempre se lembram daquilo que os interessa: promessas, identidade de seus credores e devedores etc.". Permanecer intelectualmente ativo é uma forte recomendação dele. Cícero lembra que, no fim da vida, Sócrates aprendeu a tocar lira. "Acaso os adolescentes deveriam lamentar a infância e depois, tendo amadurecido, chorar a adolescência? A vida segue um curso preciso e a natureza dota cada idade de suas qualidades próprias. Por isso, a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo." Cícero acende uma luz para a humanidade ao ajudar a enxergar a velhice sob um aspecto menos negativo. Acender luzes, para nos ajudar na busca de felicidade, é a missão dos filósofos - os eternos amigos da humanidade.

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