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Desiludidos e invisíveis desenham o futuro - Parte 1

Valor: A Talent nunca teve governos ou empresas estatais em seu portfólio de clientes. Por que?

Júlio Ribeiro: A finalidade do poder público é prover educação, segurança e saúde e os governos tiram dessas áreas centenas de milhões de dólares todos os anos para promover a si mesmos. Eu acho isso anti-social. Por outro lado, os governos são entidades políticas e a escolha das agências tem que ser política. Tem ocasiões em que você tem que trabalhar nas ante-salas da corte, tem que contribuir para coisas com as quais você não concorda: propina, corrupção. Essa promiscuidade não me atrai. Em 30 anos de profissão eu nunca tinha visto o que aconteceu no ano passado.

Valor: O escândalo é novo. Não a prática.

Júlio Ribeiro: A prática política é leniente, permissiva, complacente por definição. Qualquer político que você pensar, tem que compor. Agora, corrupção instituída não tinha. Eu me orgulhava e falei, em várias palestras, que nós estávamos num dos campos profissionais mais éticos. Porque, mesmo lidando com US$ 8 bilhões por ano, a gente não freqüentava as manchetes dos jornais. Você não vê alguém recolher o dinheiro de uma Volkswagen e sumir com ele numa agência de publicidade.

Valor: Mas não havia corrupção na contratação das agências, por parte dos órgãos públicos?

Julio Ribeiro: Olha, até onde é visível não. Eu tenho amigos publicitários que ganharam concorrências honestamente. Agora, o que se faz entre quatro paredes a gente não fica sabendo. Você pode ter o hábito de usar lingerie entre quatro paredes. Se a polícia pega você usando lingerie, aí vira um escândalo.

Valor: O fato da publicidade ter usado lingerie em público agora, fez muito mal ao setor?

Júlio Ribeiro: Claro que fez. Fez muito mal. Mas não acho que houve um escândalo na publicidade. O Marcos Valério nunca foi publicitário. Ele sempre foi lobista.

Valor: O Duda Mendonça decepcionou o senhor?

Júlio Ribeiro: Me decepcionou porque ele é um profissional competente. Fiquei triste por ele.

Valor: As recentes mudanças na legislação eleitoral melhoram o processo?

Júlio Ribeiro: O grande problema político do Brasil hoje são os erros estruturais do modelo político. A representação dos estados, os colégios eleitorais. O eleitor do Acre que vale por 20 eleitores paulistas. A forma como o colégio eleitoral é formado, sem voto distrital, propicia a falta de representação e a entrada de muitos aventureiros. A legislação eleitoral é leniente e a Justiça no Brasil é uma caso triste de incompetência secular, e e até onde eu vejo, não faz nada para acabar. O que está acontecendo hoje no Brasil? Todas as coisas que estão no Hino Nacional, no Hino da Bandeira, no Hino da Independência estão perdendo o sentido, porque as pessoas não confiam mais no Poder Executivo. Depois tem o Legislativo com esse procedimento de absolvições, de conivência com sanguessugas. E terceiro, o Poder Judiciário que não pune ninguém. Os jornais informam que uma pessoa acima de determinada renda não cumpre mais de cinco anos de cadeia neste país. O resultado disso é uma desilusão em relação aos ideais da pátria. Você pega, como exemplo os Estados Unidos, que é a potência imperialista do milênio, eles são um país místico: eles acreditam nas instituições, se emocionam ouvindo o hino nacional. Você vê, os executivos da Enron, foram condenados a penas altíssimas. Qual empresário brasileiro foi preso, apesar de desvios colossais? Nenhum. A única pessoa presa, com alguma importância aqui no Brasil é o juiz Nicolau, e em prisão domiciliar.

Valor: Essa desilusão que o senhor descreve não está restrita a uma parcela da população, a elite? . Porque como é explica a popularidade do Lula?
Júlio Ribeiro: Qualquer brasileiro consciente está desiludido com os três poderes constituídos. Qualquer coisa que se vá fazer no Judiciário leva um século para ser solucionada. Estamos tocando um projeto que, entre outras coisas, mostra que no Brasil morrem 15 crianças por hora em conseqüência da falta de saneamento. A Constituição de 1988 estabeleceu que os municípios cuidariam da água e os estados cuidariam do esgoto. O Ministério das Cidades fez uma lei que permite às prefeituras abrir consórcios para cuidar da água. Essa regulamentação está há 20 anos no Congresso e o Supremo Tribunal Federal está há oito anos para dar um parecer sobre um município do Rio que privatizou o serviço de água e foi acionado pelo Estado. Oito anos e as crianças continuam morrendo.

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